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Gengivite em Gato: causas, tratamento e prevenção.

Setas indicam processo de inflamação na boca do gato. Gengivite em gatos.

A gengivite em gato é um problema que ocorre com frequência e se caracteriza pela inflamação da gengiva dos felinos.

A doença pode ocorrer desde os primeiros anos de vida do animal, apenas na fase adulta ou mesmo na fase de envelhecimento, mas, são mais comuns nos gatos idosos.

As doenças bucais no gastos recebem diferentes denominações, como, por exemplo, gengivite crônica, complexo gengivite estomatite felina, estomatite necrosante, entre outras.

Essas diferentes denominações são dadas dependendo da distribuição das lesões e dos achados observados pelo médico veterinário ao consultar e analisar o caso do seu gato.

A gengivite é comum entre os gatos?

Estudos recentes mostraram que as enfermidades bucais em gatos domésticos são causas frequentes de atendimento clínico.

Por exemplo, em um estudo realizado na Finlândia, observou-se que a gengivite e a presença de placas dentárias foram as doenças mais comuns em gatos domésticos de raça e sem raça definida.

No Brasil, foi realizado um estudo com uma população de 588 gatos. Dentre os gatos estudados, 38% apresentaram doença periodontal, 29% lesões de reabsorção, 22% apresentaram fraturas dentárias, 8% gengivite e 3% outros tipos de alterações bucais.

Então, quais são as causas da gengivite em gato?

É importante ressaltar que as doenças bucais que acometem os gatos domésticos podem ter diversas causas, desde fatores ambientais, genéticos, nutricionais e de manejo. Além disso, podem estar associadas a infecções bacterianas e virais.

Esses fatores podem iniciar diretamente ou indiretamente o processo inflamatório por meio do desequilíbrio da microbiota bacteriana oral e da resposta imune do animal.

Vários vírus são apontados como fatores predisponentes para o desenvolvimento da gengivite. Entretanto, os que mais se destacam são o herpesvírus felino (FHV-1), o calicivírus felino (FCV), o vírus da imunodeficiência felina (FIV) e o vírus da Leucemia felina (FeLV).

Ademais, os estudos mostraram que cerca de 50 a 80% dos gatos FIV positivos apresentavam gengivite crônica.

Similarmente, entre as bactérias, vários tipos diferentes já foram implicados aos quadros de gengivite, tais como Bacteroides spp. (B. fragilis, B. gingivalis e B. intermedius), Porphyromonas spp., Peptostreptococcus anaerobius, Neisseria spp., Staphylococcus aureus, Staphylococcus epidermidis, Streptococcus spp., Escherichia coli, Enterobacter spp., Pseudomonas aeruginosa, Bartonella spp. e Pasteurella multocida.

E quais os sintomas meu gato apresenta quanto está com gengivite?

Os gatos afetados com gengivite podem apresentar a gengiva inflamada e avermelhada, inchada, ulcerada (afta) e até sangramento em decorrência do processo inflamatório.

Inicialmente, acredita-se que seja um processo indolor. Contudo, na maioria dos casos tende a evoluir para um quadro de periodontite.

Nesse caso, a periodontite não inclui apenas o processo inflamatório, mas também ocorre a degradação do ligamento periodontal e do tecido ósseo de suporte do dente. A periodontite pode levar à perda de tecidos de suporte e também à perda do(s) dente(s).

Os sinais clínicos da gengivite em gato são: falta de apetite, mau hálito, salivação intensa, dificuldade em higienizar-se, engolir e até mesmo respirar.

Outros sinais comuns nos casos de gengivite: sangramento bucal, desidratação, perda de peso, dor e agressividade decorrente do desconforto gerado, o que pode dificultar a convivência com esses animais.

Aliás, como é feito o diagnóstico da gengivite em gato?

Apesar de tudo, muito pouco ainda se sabe sobre a importância das bactérias para a ocorrência da gengivite, principalmente porque muitas delas fazem parte da microbiota bucal dos gatos domésticos.

Assim, o diagnóstico da gengivite felina envolve o exame físico, incluindo exame da cavidade bucal, hemograma completo e perfil bioquímico para identificar ou descartar afecções concomitantes.

É importante, também, realizar a pesquisa de agentes infecciosos, como FIV, FeLV, FHV-1 e FCV, além de exame de biópsia dos tecidos acometidos.

Então, meu gato está com gengivite, e agora!?!! Como tratar?

O tratamento clínico da gengivite em felinos é difícil e, até o momento, não existe um protocolo eficaz.

Em casos graves, muitas vezes após várias tentativas terapêuticas ocorre reagudização do quadro clínico, que pode até acarretar a morte do gato.

O tratamento deve ser individualizado e costuma ser baseado num conjunto de medidas terapêuticas. Contudo, a escolha do tratamento adequado ou qual o melhor remédio para a gengivite em gato cabe ao médico veterinário responsável pelo paciente felino.

Com o intuito de reduzir a dor e a inflamação e estimular o apetite, indica-se a terapia com anti-inflamatórios esteroides. Em casos mais graves, se o animal não se alimentar voluntariamente, indica-se o uso de sonda esofágica para manejo nutricional.

Ademais, aliar o fornecimento de dietas hipoalergênicas pode ser eficaz devido à redução de substâncias estranhas presentes no alimento.

Adicionalmente, para o tratamento da gengivite se utiliza antibióticos com o intuito de reduzir a presença de bactérias patogênicas nos locais afetados.

Ainda, a extração de todos os dentes depois dos caninos, dos dentes com periodontite ou a reabsorção de raízes retidas pode ser uma medida de tratamento ou prevenção do agravamento dos casos. Essas medidas ainda são consideradas a melhor terapia, com efeitos benéficos a longo prazo, pela redução das superfícies passíveis de reter placa bacteriana, principalmente para os casos crônicos.

Aliás, tratamento caseiro para gengivite em gatos funciona?

O tratamento convencional, como visto acima, é muito complexo e deve atuar em várias frentes para que os nosso animais tenham o máximo sucesso e qualidade de vida ao atravessar quadros de gengivites.

Apesar de alguns profissionais e criadores de gatos relatarem o uso de tratamentos alternativos para essa enfermidade, não há comprovação científica que suporte esse tipo de conduta para sanar a doença.

É importante salientar que, principalmente nos casos de enfermidades complexas como a gengivite em gato, os casos não atendidos de forma adequada no início podem evoluir rapidamente para doenças graves e crônicas.

Portanto, o mais indicado é aliar o uso de medicamentos para gengivite em gatos e outras medidas adicionais que o médico veterinário de seu felino considerar adequadas ao caso.

Como posso prevenir a gengivite felina?

A forma mais eficaz de prevenção da doença é a correta escovação dos dentes, isso porque ela promove a remoção mecânica das bactérias e impede o seu desenvolvimento.

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Portanto, é importante mantermos a higiene e escovação dos dentes de nossos gatos. Esse procedimento deve ser realizado, no mínimo, três vezes por semana. Entretanto, o ideal é a escovação diária.

Então, como a limpeza e escovação dos dentes de animais não é um procedimento fácil de realizar, é interessante habituar o seu animal à escovação dos dentes desde filhote. Utilize para isso pasta de dentes para gatos e também uma escova de dentes adequada ao seu felino.

No início da adaptação se utiliza uma dedeira de silicone ou mesmo enrolar uma gaze no dedo e passar nos dentes e na gengiva, para acostumar o seu bichano à escovação diárias.

Certamente, o sucesso da prevenção dependerá, também, da atenção e manutenção da saúde bucal e do acondicionamento geral do animal, quer por meio da nutrição adequada ou da manutenção das vacinações em dia.

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Valéria Lara Carregaro

Médica Veterinária graduada pela Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), em 1994. Com aprimoramento na área de Doenças Infecciosas dos Animais Domésticos (1994-1996) pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, da UNESP, Botucatu, São Paulo. Mestre na área de Vigilância Sanitária (1999) e Doutora na área de Clínica Veterinária (2004) pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, da UNESP, Botucatu, São Paulo. Atualmente é professora contratada da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA), da USP, Pirassununga, São Paulo.

E-mail: vallaracarregaro@gmail.com


Referências:

OLDER, C. E. et al. Influence of the FIV Status and Chronic Gingivitis on Feline Oral Microbiota. Pathogens, v. 9, 383, 2020.

LOMMER, M. Oral inflammation in small animals. Vet. Clin. Small Anim., v. 43, p. 555-571, 2013.

VAPALAHTI, K. et al. Health and behavioral survey of over 8000 finish cats. Frontier Veterinary Science, v. 29, p. 1-16, 2016.

1 Comment

1 Comment

  1. Alessandra

    7 de junho de 2021 at 17:10

    Dra. Valeria , venho agradecer o seu texto, sou do RJ e tenho uma gatinha que vem sofrendo com essa gengivite, tenho lutado para conseguir tratar e dar conforto e qualidade de vida a ela, passei por quatro vets e me pareceu que não tinham muita vivência com esse quadro clínico. Somente o último orientou a extração dos dentinhos, mas ainda assim, não pediu exames para verificarmos a origem do problema, (se seria herpes, calicivírus, por exemplo)… Tenho medo de tirar os dentinhos e não resolver o problema… Estou muito insegura e vi nas suas colocações um norte.

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